O novo filme de Neil Marshall, Doomsday, é, como diria muita gente que eu conheço, um forró forrado. O diretor dos bacanas, Dog Soldiers e Abismo do Medo, pisa na banana feio nesse universo apocalíptico, o pior que o filme tem tudo para dar certo.

Em Doomsday, uma parte do Reino Unido é assolado por um vírus e numa medida de tentar barrar a contaminação para o resto do território, o governo constrói um muro separando a zona contaminada da zona livre. Alguns anos depois, um novo foco do vírus aparece em Londres, que é o coração da tal zona livre. O governo britânico resolve enviar um time tático para a zona contaminada a fim de trazerem de lá os sobreviventes da primeira epidemia, que supostamente são a chave para a cura.

O filme, à princípio, parece uma homenagem às trasheiras clássicas de John Carpenter, só à princípio. Vamos aos poucos. Rhona Mitra, é uma espécie de Snake Plissken, com direito a tapa olho e tudo, que trabalha para o governo. Ela é uma militar durona com um passado nebuloso. A construção da personagem é bacana e uma referência direta ao personagem que imortalizou Kurt Russel no clássico de Carpenter. Marshal soube dosar o clima apocalíptico presente em Fuga de NY. Outra coisa em que vemos ali um quê de “quero ser John Carpenter” é a trilha sonora que acompanha Rhona Mitra e sua trupe, que logo logo vira carne de churrasco (cena forte diga-se de passagem).

Como disse lá no início, o filme do meio pro fim se perde e vira um corre corre descerebreado, toda a possível crítica à sociedade britânica se perde em meio à trasheira e gore gratúitos, bem diferente, como por exemplo, do excelente trabalho de Alfonso Cuàron em Filhos da Esperança. Ai também se encontra uma característica que pode deixar enjoada a platéia mais sensível, o gore e as trasheiras, boa parte praticadas pelos vilões do filme. Essas são absurdamente cruéis e de virar o estômago, como por exemplo o banquete do primeiro grupo de vilões... que nojo! Mas o meu lado sádico gosta disso, pena que aqui a simples razão dessas cenas é ser de virar o estômago e só.

Vocês lembram daquele suposto “filme” Robocop 4, que na verdade eram os dois ou três primeiros capítulos da tele-série do robô policial? Então, além de se perder da metade pro fim, Doomsday parece mais o piloto de uma série. Personagens que seriam importantes para a trama aparecem e desaparecem como num piscar de olhos, Malcolm McDowell deve ter trabalhado uns dois dias. E o final é tão aberto, mas tão aberto que dá até pra esperar o episódio da semana que vêm.

Ok, chega de detonar o filme, vamos falar agora o que presta. Rhona Mitra, ela por si só já vale o ingresso pra sala ou o DVD, acho que por terras brasílis Doomsday vai direto para casa. Não só pela beldade que ela é, mas também pela competência que ela monta a personagem. Tudo bem que é um chupin descarado de Plissken. Mas, assim como eu, boa parte da parcela que consome esse tipo de filme, prefere ver uma gata como Mitra do que um cara barbudo mancando. Outro destaque é o vilão Sol (Craig Conway, constante colaborador de Marshall). Tudo bem que o personagem é exagerado pacas, que o ator só grita, que pode ser o cara mais caricato dos últimos tempos, mas que é legal ver um vilão assim é. O cara é um misto de The Duke, o Isaac Hayes em Fuga de NY, e dos muitos vilões da cine-série Mad Max.

O filme começa de uma maneira, no meio é muda e no final é outra totalmente diferente. Vamos colocar assim, no início o filme tem um quê de filme de zumbi, eu já ia supondo que o tal vírus era uma coisa como o de Extermínio ou como a maioria dos filmes do gênero. Lá pro meio vira um misto de Fuga de NY e filme medieval, isso ai, medieval mesmo, com direito à espadas, cavaleiros, escudos e tudo mais. Lá pro final, vira uma espécie de Mad Max com direito a carros modificados à melhor maneira do Guerreiro do Asfalto. Como eu disse, o filme é um verdadeiro forró forrado, que não se mostra competente de maneira cinematográfica.

No início da carreira, John Carpenter emplacou diversos sucessos dos famosos filmes B, inspirados pelo cinema de ficção da década de 40, 50 e 60. Acredito que Marshal é um cara que conhece bem o trabalho de Carpenter e que quer sim ser como o ele um dia. Porém, Carpenter escorregou na banana de Fuga de Los Angeles para cá, quase duas décadas depois de lançar seu primeiro filme, e não num dos seus primeiros trabalhos. Se a intenção de Marshall é fazer uma tele-série com esse Doomsday, ok, vai fundo tá no caminho certo, agora se ele pretende ser um Carpenter da nova geração, é melhor repensar um pouco o que anda fazendo.



3 comentários

  1. Cecilia Barroso on 15 de agosto de 2008 às 00:27

    Olha, não me interessaria pelo filme, mas até que os comentários me deixaram curiosa. O meu problema é que eu gosto de um mal-feito... Hehehe. Vou ter que conferir!

     
  2. Thiago Flôres on 18 de agosto de 2008 às 07:02

    Olha, eu também gosto do mal-feito, do grotesco... Mas esse ai não me encheu os olhos... Infelizmente, eu até estava entusiasmado com esse filme... mas...
    Bem, no seu caso eu recomendo, ainda mais se voce gosta dos filmes de Carpenter, um prato cheio de referências do universo do cultuado diretor.

     
  3. Artorius on 27 de dezembro de 2010 às 13:14

    No inicio achei que era um filme do tipo " Resident Evil" ou então como o nome sugere um filme parecido com "Doom" mais ao decorrer do filme você percebe que sao muito poucas as semelhanças, o filme tem muita ação e faz você se sentir meio que atormentado em certas cenas... no geral é um bom filme não tenho muito de ruim a falar basicamaente cada pessoa tem seu estilo de filmes e esse não e um filme para quem adora ver comedia-romantica.