Guillermo del Toro é um dos diretores latinos que caiu nas graças de Hollywood graças à competente obra: Espinha do Diabo (2001). De cara deram para ele a direção de Blade 2, continuação do longa inspirado no personagem dos quadrinhos da Marvel, e não é que o cara mostrou mais ainda que entende da coisa. Dois anos depois ele trouxe ao mundo uma das mais divertidas adaptações dos gibis para as telonas, Hellboy. Ai veio o estardalhaço em torno de Labirinto do Fauno, filme que é segunda parte da trilogia iniciada em Espinha do Diabo. Há alguns dias, tive a oportunidade de ver o mais novo filme do diretor mexicano. A qualidade do selo del Toro está lá, assim como as repetições de situações que todos nós já conhecemos dos outros trabalhos do padrinho de Cuarón e Iñarritu. O que, para mim, só fez o filme ficar mais divertido ainda.



O filme abre com Hellboy ainda criança e conta com a participação de John Hurt nessa cena. Nela, o “pai” do herói conta uma história sobre o mítico Exército de Ouro, que dá título à trama. Alguns anos depois do primeiro longa, Hellboy (Ron Perlman) se vê na tentativa de impedir que o principe Nuada (Luke Goss) adquira o controle do indestrutível Exército de Ouro que daria fim à humanidade. Mais uma vez Hellboy tem que salvar o dia.



O roteiro é feijão com arroz, mas mostra algumas surpresas no decorrer da projeção. Hellboy ainda busca a liberdade de poder andar por ai como uma pessoa normal e finalmente quando ele à alcança, vê que não é muito bem isso que quer, ele é um ser sem lugar no mundo, um ser como todos os outros que combate, um pária, assim como sua, agora esposa, Liz Sherman (Selma Blair) e seu parceiro inseparável, Abe (Doug Jones), e esse é um dos conflitos apresentados pela caneta do próprio del Toro que assina o roteiro, e boa parte do roteiro se sustenta ai. Hellboy é um ser que não é humano e não sabe ainda o que deve fazer da vida. O próprio principe Nuada questiona o herói na luta contra um monstrão a lá Cloverfield quem ele realmente é. Esse é um dos trunfos do roteiro, já usado em outros filmes, inclusive do próprio diretor.



A mistura de CGI e animatrônicos fazem um casamento perfeito e Hellboy 2 e mais uma vez os monstros e seres sobrenaturais são as alegorias mais bacanas. Na minha opinião é, até agora, as mais legais criadas por del Toro. O majestoso Anjo da Morte é aterrorizante e o que mais se destaca e também abre mais ainda o leque para continuações. Pena que o tal Exército de Ouro seja decepcionante e sinceramente, não me passou a sensação de perigo real que os heróis supostamente se encontravam.



O romance, pela ótica distorcida de del Toro, está presente nessa continuação. A situação entre Hellboy e Liz está, de certa maneira, estabilizada e agora é a vez de Abe Sapien descobrir o amor. O par romântico do “homem-peixe” é a princesa, Nuala (Anna Walton) irmã gêmea do vilão (rola uma coisa meio Irmãos Corso aqui).



O humor fica a cargo do irritante chefe de Hellboy, Tom Manning (Jefrey Tambor), do próprio Vermelhão e da surpresa no elenco, Seth McFarlane, o criador do genial desenho animado Family Guy (confesso que sou fã de carteirinha e não perco uma aventura de Peter Griffin e companhia) na voz do novo chefe do herói, o alemão gaseificado Johann Krauss claramente inspirado em no vilão Peter Gruber de Jeremy Irons em Duro de Matar 3: A Vingança. As piadas, poucas mas divertidas rendem alguns momentos bem legais, destaque para a cena no vestiário e para a cena de bebedeira entre Hellboy e Abe. Ainda na questão humor, me irritou bastante ver que a agência de Hellboy virou uma espécie de agência da MIB, inclusive com aquelas piadinhas que acontecem ao fundo, sem graça e com o simples propósito de entreter o público mais novo.



Hellboy 2: The Golden Army foi um ótimo exercício para del Toro fazer os seres fantásticos que só ele sabe fazer, inclusive basante elogiado pelo criador do personagem o quadrinista Mike Mignola (que aprova o personagem e universo bem diferente dos quadrinhos). Com o anúncio de que Guillermo del Toro vai comandar os dois filmes inspirados no Hobbit, não vejo um outro Hellboy tão cedo, mas sim, o Vermelhão tem vida longa nas telonas.





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