Há tempos que estou para escrever uma crítica sobre o novo filme do mestre George A. Romero, Diário dos Mortos, que não chegou nos cinemas daqui, exceto por uma ou duas exibições no Rio de Janeiro alguns meses atrás. Direto para DVD, não sei quando chega nas lojas, Diário, é, sem sombra de dúvida, superior ao esteriotipado Terra dos Mortos (2005) e é uma espécie de “abertura de olhos para os novos dias”, o mestre usa e abusa do universo digital aqui.

A trama acompanha um grupo de estudantes de cinema realizando um filme numa floresta, quando o mundo vira de ponta a cabeça. Zumbis começam a aparecer, cidades vão pro beleléu etc e tal. Sendo que, o diretor do filme (dentro do filme!) resolve registrar tudo com o intuito de espalhar a verdade para o mundo.

O filme é uma grande homenagem à quadrilogia dos Mortos, para quem não sabe são Noite, Despetar, Dia e Terra, tudo isso com dos Mortos no final. Ok, se você não conhece ou se conhece mas nunca viu, veja! Os três primeiros são obrigatórios para quem curte o sub-gênero de horror “Filme de Zumbi”. Pode-se até mesmo dizer que Romero trouxe isso para a sétima arte lá nos primórdios com A Noite do Mortos Vivos em 1968. Depois veio, o que eu considero o melhor de toda quadrilogia, O Despertar dos Mortos em 1978. Em seguida vieram Dia dos Mortos e Terra dos Mortos, 1985 e 2005, respectivamente.

A razão pela qual eu acho que Diário é uma homenagem aos outros filmes de zumbi do mestre é o uso de diversos elementos desse universo. Tem a coisa da correria, o confinamento, o “quem tem mais armas tem mais chances de sobreviver”, as tripas e sangue voando a todo momento e muito mais. Um prato cheio para fãs do gênero e prato mais cheio ainda para quem é fã do mestre.

O uso de câmeras digitais no filme evidencia, não só um abraço caloroso ao novo, mas também uma reinvenção do diretor. Assim como em Cloverfield e Bruxa de Blair, vemos um filme dentro do filme, só que aqui existe uma edição final do material, feita por uma das personagens, a durona Debra (Michelle Morgan). Não somos simplesmente atirados dentro da trama por uma fita mini-dv ou rolos de negativos achados numa floresta ou cidade destruída, temos um produto finalizado, com direito a trilha sonora e tudo mais.

Falando nela, a montagem é bem bacana. As duas câmeras usadas pelos estudantes para registrar os acontecimentos do fim do mundo são muito bem usadas, temos, quase sempre, dois pontos de vista do que está acontecendo. A cena em que os personagens chegam na casa de um deles, mais especificamente durante o ataque do irmão mais novo, e até mesmo dois pontos de vista em dois núcleos diferentes. Como na cena em que eles encontram a gangue. Uma câmera acompanha a discussão entre a gangue e os estudantes e a outra acompanha Jason (Joshua Close), diretor do filme dentro do filme, que divulga os vídeos de ataques de zumbi pela internet.

O roteiro escrito por Romero é bem legal, e, como disse outras vezes até aqui, abraça o “mundo novo”, ele recebe a geração YouTube de braços abertos sabe que aquilo é o futuro e entende como aquilo vai funcionar. Todos os filmes do mestre criticam e exploram alguma característica da nossa sociedade. Em Noite teve um pouco da coisa do racismo, em Despertar o consumismo e capitalismo, em Dia dos Mortos foi uma crítica aberta ao militarismo norte-americano e controle bélico e em Terra dos Mortos foi à nova paranóia norte-americana: o terrorismo. Romero reconhece que a geração hi-tech é quem vai mandar no sistema de broadcasting daqui uns anos, se é que isso já não acontece, afinal, você está lendo essa crítica num blog, que eu edito do meu laptop num canto qualquer. Quer melhor exemplo que esse?! Pois bem, a crítica de Romero em Diário tem tudo a ver com essa coisa de blog, YouTube, comentários, twiter, etc e tal, ele defende que esse é o verdadeiro meio de comunicação aberta, onde o usuário não tem medo de falar a verdade, doa a quem doer, um grande tapa na cara dos grandes sistemas de comunicação. O filme tem que ser visto pela galera da blogosfera, aposto que muita gente vai ficar babando.

Pode até ser legal essa recepção calorosa do mestre ao novo, mas é um pé no saco ficar ouvindo Jason o tempo todo falar que ele só quer mostrar a verdade e que é obrigação dele fazer isso. Essa na verdade é a única coisa que eu não gostei do filme, a repetição do que o cara pretende.

Sabe a cinesérie Resident Evil? Pois bem, muitos defendem que era Romero quem tinha que comandar os filmes, eu sou um deles. E não é que ele mostrou como poderia ter feito o filme baseado nos games de maneira fiel à linguagem criada no mundo binário? Lá pro final, quando os estudantes chegam na mansão do ator do filmeco que eles gravavam na floresta no início do filme, Romero brinca com as câmeras de segurança do lugar. Mais alguém ai lembrou um pouco dos jogos Resident Evil? Posso dizer que os meus olhos brilharam nessa hora e soltei um “Putz! Por que não colocaram ele pra comandar o filme?” Não ia ter aquela bobagem de Alice, Paul W.S. Anderson e sua verborragia fílmica... Enfim toda aquela bosta que é a série.

Diário dos Mortos é sem dúvida o filme dos Mortos do século 21, mesmo o mestre dizendo que não é uma série e sim filmes independentes. Ok mestre, o senhor sabe fazer filmes de zumbis como ninguém e que venham mais.




1 Comment

  1. Anônimo on 14 de fevereiro de 2009 às 16:46

    Diario dos Mortos é o PIOR filme do Romero! Só perde para Knightriders cuja "ruindade" é lendária.