Em tempos de discussão sobre o aquecimento global (desde que sou criança esse assunto está em pauta!) nada melhor do que ver uma deliciosa comédia (/romântica) “fofa” sobre um robozinho tentando salvar o planeta em que vivemos. Wall E é uma síntese perfeita entre entretenimento e educação.

Bem, a simpática história de Wall E nos mostra um planeta Terra acabado numa pilha de lixo e Wall E é o único de uma leva de robôs responsáveis por “limpar” o planeta. Tudo vai bem com o robô lixeiro até que um dia chega na terra a temperamental robozinha Eve (Eva na versão nacional) que tem uma missão secreta. Ah, sim, Wall E acaba se apaixonando por Eve.

Os primeiros minutos de projeção são contados sem diálogos, como prometido pelos produtores do longa na época em que rolaram os primeiros stills. Nada que os ruídos e trilha sonora não dêem conta. Tenho certeza que a molecadinha mais nova não vai pegar metade do que acontece nesses momentos.

As crianças mais novas que me perdoem, mas a maioria das animações de hoje são feitas para as “crianças” mais velhas (Nós adultos, óbvio!). Claro que moleque nenhum vai pescar as inúmeras referências ao clássico 2001: Uma Odisséia no Espaço do mestre Kubrick. Falando nesse clássico, o vilão de Wall E, um computador que age para manter o sucesso da missão custe o que custar, que tem sua “alma” estampada por um olho mecânico vermelho frio é um primo bem próximo do temido HAL-9000, inclusive a cena em que o Capitão (voz de Jeff Garlin) se irrita é idêntica à muitas cenas de 2001 (A trilha sonora é outra que usa e abusa da trilha de 2001).

Referências à parte, Wall E constrói a relação do personagem principal e sua amada de maneira mais eficiente do que muitos filmes com centenas de falas entre personagens de carne-e-osso. Que aqui aparecem em duas versões, uma gerada por CGI e outra atores reais, o principal deles é Fred Willard. O que pode soar um pouco tosco, mas achei bem explicada a transição do real para o gerado em computador.

Ainda no assunto, os personagens humanos são mostrados de agindo de maneira robótica, bem mais robótica que os próprios robôs presentes na película. Quando somos apresentados aos seres-humanos, vemos pessoas bitoladas, preguiçosas, com a cara colada num computador, bem semelhante a uma parcela da população mundial hoje em dia. Podemos até mesmo dizer que Wall E é um tapa na cara dessa geração que prefere ficar no MSN do que ir até a mesa ao lado e falar pessoalmente com o colega. Outra coisa, os humanos são tão preguiçosos que sequer se levantam, se a evolução da raça continuar seguindo por esse caminho, Wall E um dia será chamado de profético.

É interessante analisar como as duas espécies de personagens se comportam de maneiras bem diferentes. De um lado temos os robôs, em especial Wall E e Eve, que se importam com coisas mundanas, como o toque e sentimentos. Já os seres-humanos, se mostram seres frios, fazendo praticamente nada e vivendo num mundo artificial, quase uma Matrix sem o mundo da ilusão, a não ser aquele criado por cada indivíduo.

Wall E levanta questões complexas e deixa muitas perguntas na cabeça do espectador. É um filme muito mais para se pensar do que para dizer “que fofo!”.

Claro que em se tratando de uma animação da Pixar, não poderia se deixado de fora as piadas, que recheiam, em grande estilo, o decorrer dos seus 98 minutos de projeção. Como disse os primeiros minutos, sem diálogos, ficamos sabendo um pouco mais sobre o cansativo e penoso dia-a-dia de Wall E, claro que muitas piadas, ao melhor estilo Pixar, acontecem ali. Na verdade, todo o filme, além de ser um tapa na cara como disse antes, é uma grande piada com a nossa sociedade. O roteiro, escrito pelo diretor do longa Andrew Stanton, lida muito bem com a ridicularização do ser-humano e vemos como cada vez mais ficamos dependentes de “seres-cibernéticos” (ontem mesmo ví que britânicos inventaram um robô barman!!!). Alguns de vocês poderão até rir de mim, mas fiquem sabendo que eu tenho medo (de verdade) daquelas maquinas que liberam a sua entrada e saída de shoppings, ou até mesmo de caixas eletrônicos... Sabem a Skynet da série do Exterminador do Futuro?

Falando no roteiro, tenho somente uma reclamação (SPOILER) Quando Eve retorna a nave Axiom com a planta, os robôs, principalmente o primo próximo do HAL-9000 faz um estardalhaço para o capitão ver logo a descoberta, o que, de alguma maneira representa o retorno dos seres-humanos ao planeta Terra. Momentos depois, esse mesmo robô revela ter a missão de não deixar os humanos retornarem. Ora! (FIM DO SPOILER)

Wall E é um prato cheio se você está afim de ver mais uma boa animação da Pixar (não cito a Disney porque não gosto da turma do Mickey!) e claro pensar um pouco sobre a sua situação no mundo e no que você pode fazer para melhorá-lo. Nota 10 para o simpático robozinho e sua trupe.




2 comentários

  1. Cecilia Barroso on 4 de julho de 2008 às 13:12

    O filme é mesmo uma "fofura", como você diz. Mas eu acho que apesar de não acompanharem algumas referências, os pimpolhos acabam percebendo sim o filme.
    E realmente, algumas coisas são mal explicadas, mas não comprometem o resultado final.

     
  2. Thiago Flôres on 12 de julho de 2008 às 12:13

    Mas o que vale mesmo em Wall E é a mensagem bacana que o filme passa.
    Muito legal né!