Juno é aquele típico filme que você não consegue desgrudar os olhos. Nada de revolucionário vai acontecer, nenhum efeito em computação vai te fazer ficar boquiaberto, você não vai se assustar, você simplesmente vai ser envolvido pela história simples e se deixar levar até onde ela quiser.


A trama nos mostra a adolescente Juno (interpretada por Ellen Page, sempre ótima) que acaba engravidando do melhor amigo, Paulie Bleeker (Michael Cera, de Super Bad e da série Arrested Development) após uma única noite de sexo. Como eu disse a história é simples, mas, envolvente.


A narrativa é centrada na personagem título. Ela, a narrativa, explora ao máximo o universo de mais uma adolescente inconseqüente, mostrando logo no início uma imaturidade comum nessa idade. Na verdade, não só ela é a adolescente inconseqüente aqui, todos os amigos e colegas do colégio são “normais”, cada um com seus gostos, problemas, jeito de ser e imaturos, não é como em outros filmes e seriados onde tem sempre um, ou vários, jovens hiper-responsáveis que mais se parece com heróis perfeitos, só com qualidades, sem defeitos. Na verdade, Juno é tão verdadeiro que o problema da personagem de Ellen Page poderia acontecer em qualquer outro ponto do mundo.


Como não poderia deixar de citar, o roteiro, muito bem, escrito pela ex-stripper e ex-atendente de tele-sexo, Diablo Cody, sabe mesclar muito bem elementos dos gêneros drama e comédia. Ah, os diálogos são um show à parte. Juno e sua melhor amiga, Leah (Olívia Thirlby), são duas adolescentes que adoram falar palavrões e possuem quase que um “dialeto” próprio (pena que as legendas brasileiras não souberam captar o real sentido de muita coisa!), mas se você pensar bem, e se você se lembra, quem não tinha um “dialeto” com os amigos nessa idade. Frases rápidas, tiradas sarcástica e humor ácido (elementos que o diretor Jason Reitman adora) estão presentes em todo o filme, diria que é quase uma versão hardcore do seriado Gilmore Girls.


Outro ponto positivo do roteiro de Cody é basicamente a captura da essência do universo dos adolescentes. O que fica bastante claro quando vemos Juno em casa, hora parece odiar a madrasta, Bren (Allison Janney) e hora a ama como se fosse sua verdadeira mãe, o que é bastante típico num jovem que não é adulto e nem criança, uma relação de amor/ódio tão tênue que nem ele sabe ao certo que sente. O relacionamento entre Juno e seu pai, o ótimo J.K. Simmons (O J.J. Jameson de Homem-Aranha) é um retrato daquilo que acontece muito hoje em dia, um pai um tanto quanto ausente, mas que se faz presente quando necessário. Ele se questiona achando que a gravidez foi em parte culpa dele e dá todo o apoio quando a filha mais precisa. Outro grande trunfo do filme é sua trilha sonora. As músicas ajudam na construção diegética da trama, marcando passagens de tempo e até mesmo ajudando a ilustrar melhor o que Juno sente.


Logo no inicio, Juno resolve entregar o seu futuro... it (ela nunca se refere à criança que espera como filho sempre usa trocadilhos e muitos it´s) à um casal de yuppies, interpretados por Jason Baterman (pai de Michael Cera em Arrested Development) e Jennifer Garner (telesérie Alias). Nesse ponto vemos uma evolução na personagem de Page, a adolescente quer um futuro confortável para a criança. O talvez-futuro pai do neném é tudo aquilo que Juno admira, o cara se amarra num gibi, adora um som alternativo, fica até de madrugada vendo um gorezinho e é músico, na verdade ele é um amalgama daquilo que a maioria dos homens mais novos são hoje em dia, um misto de nerd com um cara hiper-cool, o que eu gosto de chamar de neo-nerd. Mas ai está o ponto fraco da trama. Cody não soube captar o que realmente esse neo-nerd é. Ela pode entender tudo quando o assunto é adolescentes problemáticas, mas compreender a cabeça de um neo-nerd... é outro assunto. Posso até estar tomando as dores do cara, me identifico muito com o personagem, mas, ele ficou com ares de vilão no final da trama, o que não me agradou muito.


Lá pelo meio do filme até parece que vai rolar um romance entre Mark (Baterman) e Juno, o que pode ser interpretado como uma busca do que um quer ser com a do que o outro gostaria de voltar a ser. Juno, numa situação muito além de sua compreensão e maturidade se vê como adulta, já o talvez-futuro pai adotivo do it dela vê Juno como uma sombra do que ele foi o seu passado e do que ele gostaria de voltar a ser. Quase como um encontro de metades. Só que, mesmo antes de se dar conta, Juno percebe que o cara não é aquilo que ela quer, na verdade ela se questiona se ele é o pai perfeito para a criança.


A comédia é bastante presente no filme, só que não é aquele tipo de comédia adolescente ridícula que usa escatologia como desculpa para fazer graça, a graça aqui está nos diálogos, nas situações cotidianas do universo dos jovens e nos personagens a lá Jared Hess (Super Nacho e Napoleon Dynamite). Indo mais fundo nessa questão, diria que Juno está para os dias de hoje assim como o classicaço Clube dos Cinco está para a geração adolescente dos anos 80.


Juno é um filme que alcança êxito em tudo aquilo que se propõem, é uma comédia divertida, um drama contemporâneo e um filme fácil de se gostar. Com certeza vai estar numa das minhas prateleiras de DVD assim que chegar nas lojas.

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