A trama nos mostra a adolescente Juno (interpretada por Ellen Page, sempre ótima) que acaba engravidando do melhor amigo, Paulie Bleeker (Michael Cera, de Super Bad e da série Arrested Development) após uma única noite de sexo. Como eu disse a história é simples, mas, envolvente.
A narrativa é centrada na personagem título. Ela, a narrativa, explora ao máximo o universo de mais uma adolescente inconseqüente, mostrando logo no início uma imaturidade comum nessa idade. Na verdade, não só ela é a adolescente inconseqüente aqui, todos os amigos e colegas do colégio são “normais”, cada um com seus gostos, problemas, jeito de ser e imaturos, não é como em outros filmes e seriados onde tem sempre um, ou vários, jovens hiper-responsáveis que mais se parece com heróis perfeitos, só com qualidades, sem defeitos. Na verdade, Juno é tão verdadeiro que o problema da personagem de Ellen Page poderia acontecer em qualquer outro ponto do mundo.
Outro ponto positivo do roteiro de Cody é basicamente a captura da essência do universo dos adolescentes. O que fica bastante claro quando vemos Juno em casa, hora parece odiar a madrasta, Bren (Allison Janney) e hora a ama como se fosse sua verdadeira mãe, o que é bastante típico num jovem que não é adulto e nem criança, uma relação de amor/ódio tão tênue que nem ele sabe ao certo que sente. O relacionamento entre Juno e seu pai, o ótimo J.K. Simmons (O J.J. Jameson de Homem-Aranha) é um retrato daquilo que acontece muito hoje em dia, um pai um tanto quanto ausente, mas que se faz presente quando necessário. Ele se questiona achando que a gravidez foi em parte culpa dele e dá todo o apoio quando a filha mais precisa. Outro grande trunfo do filme é sua trilha sonora. As músicas ajudam na construção diegética da trama, marcando passagens de tempo e até mesmo ajudando a ilustrar melhor o que Juno sente.
Logo no inicio, Juno resolve entregar o seu futuro... it (ela nunca se refere à criança que espera como filho sempre usa trocadilhos e muitos it´s) à um casal de yuppies, interpretados por Jason Baterman (pai de Michael Cera
Lá pelo meio do filme até parece que vai rolar um romance entre Mark (Baterman) e Juno, o que pode ser interpretado como uma busca do que um quer ser com a do que o outro gostaria de voltar a ser. Juno, numa situação muito além de sua compreensão e maturidade se vê como adulta, já o talvez-futuro pai adotivo do it dela vê Juno como uma sombra do que ele foi o seu passado e do que ele gostaria de voltar a ser. Quase como um encontro de metades. Só que, mesmo antes de se dar conta, Juno percebe que o cara não é aquilo que ela quer, na verdade ela se questiona se ele é o pai perfeito para a criança.
A comédia é bastante presente no filme, só que não é aquele tipo de comédia adolescente ridícula que usa escatologia como desculpa para fazer graça, a graça aqui está nos diálogos, nas situações cotidianas do universo dos jovens e nos personagens a lá Jared Hess (Super Nacho e Napoleon Dynamite). Indo mais fundo nessa questão, diria que Juno está para os dias de hoje assim como o classicaço Clube dos Cinco está para a geração adolescente dos anos 80.
Juno é um filme que alcança êxito em tudo aquilo que se propõem, é uma comédia divertida, um drama contemporâneo e um filme fácil de se gostar. Com certeza vai estar numa das minhas prateleiras de DVD assim que chegar nas lojas.