Fruto da geração do suspense/horror espanhol, El Orfanato, no original, não surpreende tanto como outros exemplos do gênero. Para início de conversa, Guillermo del Toro, assina a produção e, obviamente, é o primeiro nome a aparecer na tela, já que com o sucesso de Labirinto do Fauno e dos blockbusters estadosunidenses HellBoy e Blade 2, del Toro é sigla de sucesso garantindo. Pena que diferentemente de outras produções do gênero, El Orfanato é um filme que se vale dos sustos mais clichês do cinema de suspense/horror, mesmo assim é um filme competente e segura o espectador até o último segundo.

Laura (Bélen Rueda) passou parte de sua infância num orfanato. Agora adulta, ela, numa espécie de compromisso com o passado, compra a antiga casa onde funcionava o tal orfanato junto com seu marido o médico Carlos (Fernando Cayo). Ela tem a idéia de fazer dali um centro de apoio à crianças com problemas, assim como seu filho adotado Simón (Roger Príncep) que é soro positivo. Na festa de inauguração da casa, Simón desaparece deixando seus pais desesperados. Ah sim, Simón tem amigos “imaginários”. O filme então mostra a luta dessa mãe desesperada para achar o filho que precisa de cuidados constantes e ainda um confronto com o passado dela.


O Orfanato é um filme sensível, apesar dos sustos, e que fala basicamente de amor, assunto que já foi abordado em Horror em Silent Hill, e comparações com o filme baseado no game não ficam só por ai. O final é praticamente idêntico ao do mostrado em Silent Hill. Mas, diferentemente da carnificina e cenas de total gore mostradas no filme de 2006, o mais violento aqui é nos colocarmos no lugar de Laura.


Sendo um filme de suspense/horror, podemos esperar muitos sustos e imagens pavorosas, uma pena que a maioria dos sustos aqui sejam aqueles velhos clichês de aumentar o volume de repente fazendo você dar um pulo da cadeira. Na verdade o som, assim como toda a parte técnica do filme, que falarei mais adiante, é um dos grandes trunfos desse filme, afinal a edição e mixagem do mesmo é a responsável por criar todo o clima sobrenatural do longa.


Antes de prosseguir, devo confessar que não consegui parar de pensar em Horror em Silent Hill ao ver O Orfanato. Durante a exibição ficava pensando, já vi isso em algum lugar. Mas felizmente aqui, toda a tensão é feita pela construção de cena (som, fotografia, direção, etc) e não de imagens repugnantes e violentas como em Silent Hill. Na verdade, o filme espanhol se mostra sensível e tem um ar melodramático. É um filme bastante intimista. Digamos que a cena mais violenta de O Orfanato é uma quando Laura prende os dedos na porta do banheiro. Ah sim, nessa cena ela cai na banheira, a decupagem da cena é IDENTICA a que vimos no remake de Dawn of the Dead, quando a personagem de Sarah Polley cai na banheira depois que o marido dela vira zumbi. (Nossa é idêntica mesmo!!!)


O roteiro de Sergio G. Sánchez é hábil, mas, mais uma vez, fica se valendo de clichês e mais clichês para dar sustos. Mas, a equipe de Juan A. Bayona é competente. A construção das cenas é de um aprecio técnico singular. Apesar de estreante, Bayona se mostra hábil na direção que dá na câmera com o que quer e o que não quer mostrar, sem contar que ele bebe muito na fonte de mestres como Kubrick e Hitchcock. Falando na direção que ele dá às câmeras, dois momentos, na verdade três, não saem da minha cabeça. O primeiro deles é a cena de abertura, que por se tratar de um filme de suspense/horror espanhol já estava me preparando para um susto, o que não acontece. Essa cena se repete lá pelo final, mas é claro que aqui dei um pulo da cadeira com o coração na boca, a decupagem aqui é extraordinária. Outro momento muito feliz de Bayona é na cena em que a médium observa os fantasmas enquanto hipnotizada. Ah sim, ela é hipnotizada pelo eterno Senhor Barriga (Edgar Vivar) do seriado Chaves, sim ele faz uma participação no filme.


Se você espera muitos sustos e criancinhas assustadoras (coisa muito comum nos filmes de horror hoje em dia) O Orfanato é um prato cheio, não espere grandes inovações ou coisas assim. O final surpreende um pouco, mas, me pareceu escrito por M. Night Shyamalan, onde tudo é mostrado por meio de flash-backs e pequenas cenas inéditas, construindo assim a “grande” surpresa do filme.



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